Azul

o reencontro com uma alma que existe dentro de um corpo etéro desprovido de lógica

31 julho 2005

Umas palavras para ti...

Depois de muito pensar, concluí que há ainda muito mais a pensar. Muito mais a definir. Muito mais a perceber. Muito mais a partilhar.
"As conversas são como as cerejas" e, por isso o relógio vai avançando nos minutos e nas horas sem que se dê conta de nada. A música ecoa e tudo faz sentido num trio que se une e se encontra em muitas coisas.
Ainda assim tenho ainda muito a pensar. Muito a definir. Muito a perceber. Muito a partilhar.
Com quem?! Alguém que me faz falta todos os dias. Todas as noites. Todas as semanas. Todas as horas. Todos os minutos. Todos os segundos. Sim!!! Falo de ti que estás longe. De ti que mal deixas que os outros gostem de ti. De ti que insistes no silêncio desmedido. De ti que falas por enigmas. De ti que transformas a saudade numa coisa saborosa. De ti que me fazes apreciar o silêncio e a calma. Ainda que, por vezes e contraditoriamente, isso me deixe completamente sem chão.
O tempo continua a passar. A deixar um rasto de saudade. Sem dó nem piedade.
Queria perceber o que te vai na alma. Queria ser capaz de te definir. Queria montar o puzzle que te compõe. Queria viajar pelos teus pensamentos e encontrar a tua realidade.
Mas o teu silêncio é sempre tão mais forte. Tão mais precioso.
Um dia disse a alguém que queria que me estendesse a mão, nem que fosse a esquerda!
A ti peço-te as mãos, as duas! Entrelaça-as nas minhas e, nem que seja por momentos, e por transferência de força interior, aperta-as e explica-me quem és!
Dá-me as tuas mãos!
Dá-me!
E depois?! Deixa o relógio parar e resolver o tempo.
Deixa o tempo resolver a incógnita.
A incógnita que consome e me deixa perdida sem saber que rumo tomar. Que me larga no meio do oceano, sem justificações e sem respostas. Perdida.
Dá-me as tuas mãos!
Dá-me!
E não me esqueças.
Nunca!!!

29 julho 2005

Unintended choice

You could be my unintended
Choice to live my life extended
You could be the one I’ll always love
You could be the one who listens to my deepest inquisitions
You could be the one I’ll always love

I’ll be there as soon as I can
But I’m busy mending broken pieces of the life I had before

First there was the one who challenged
All my dreams and all my balance
She could never be as good as you

You could be my unintended
Choice to live my life extended
You should be the one I’ll always love

I’ll be there as soon as I can
But I’m busy mending broken pieces of the life I had before

I’ll be there as soon as I can
But I’m busy mending broken pieces of the life I had before

Before you
(Muse)

28 julho 2005

Mais um diálogo!

Pink: Estou na sala onde vimos o madagáscar e apeteceu-me dizer
OLA:
O - obviamente que penso em ti!
L - lógico que sinto saudades tuas!
A - adorava tar contigo!...
Beijoca gordinha

Blue: Nem sei o que dizer?! Só mesmo tu. Obrigado!!
"Eu dava tudo pra te ter aqui.. ao pé de mim outra vez"
Beijo grande

Pink: Diz-me onde estás que eu vou a correr.
Mas não te demores, senão perco o helicóptero...

Blue: Helicóptero? Pois, claro.. então aqui vão as coordenadas:
Portugal - Zona centro - norte - ???? - Rua ABC n.º 000 - quarto do meu irmão a ver tv.. te aguardo!!! Beijos

Pink:
(Sniff...) demoraste muito! Acabei de perder o helicóptero. Mas entretanto pode ser que nos encontremos algures quando andarmos a passear pelas nuvens. Beijocas!

24 julho 2005

Saudades!!!

23 julho 2005

III Guerra Mundial

Estendi a toalha na areia e deitei-me. Limitei-me a ouvir o barulho das ondas e a saborear o som e a brisa que passava pelos meus cabelos. Fechei os olhos.
Rapidamente me imaginei, fechada e triste, num bunker, onde reinava calado o medo de sair à rua.
A III Guerra Mundial havia explodido e a segurança em qualquer parte do globo terrestre era inexistente. Comecei a sofrer por não conseguir fazer nada, por ter que me manter isolada de tudo e de todos e eis que me lembrei de me aliar aos voluntários da Cruz Vermelha. Sim, porque no meio do caos, as bolsas fecharam, qualquer tipo de loja alimentar só funciona a determinadas horas do dia e aparece com os preços numa subida estonteante e o pouco que existia nas despensas caseiras já mal dava para a sobrevivência.

A política morreu neste país, tudo se encontra destruído e os únicos ruídos são as sirenes, as explosões e os gritos de dor daqueles que vão perdendo os seus familiares.
Neste momento de nada me serve a conta choruda que tenho no banco. Tudo foi congelado. E a única coisa possível é mesmo facultar a minha ajuda àqueles que lutam por um pouco de paz.
Nas notícias do rádio a pilha, ouvem-se vozes em código, dizendo que a Al-Qaeda ainda não conseguiu o que queria, que todos os Bin Laden do grupo continuam à espera do dia Y, aquele que os porá no centro do universo.

Prosseguem as notícias e apercebo-me que a grande potência que se pretende eliminar da face da terra, teima em não cair, em não erguer sequer a bandeira branca.
Depois dos atentados aos E.U.A., a Espanha e a Londres, faltou mesmo o atentado ao Portugal que todos imaginam e definem como o 'paraíso à beira-mar plantado'.
Na realidade é um paraíso que sobrevive com cada vez mais dificuldades às diferenças partidárias e às incertezas daqueles que governam. Todos os dias muda qualquer coisa. Para pior, claro está! Mas o importante é saber se o Miguel joga ou não no Benfica e se o Sporting consegue ganhar o campeonato com o treinador que de futebol pouco ou nada percebe.
Na rádio continuam a ouvir-se vários códigos (todos imperceptíveis) e o meu medo vai-se sobrepondo a tudo.
Definitivamente, opto por pegar numa mochila e colocar lá dentro apenas o necessário. Um cantil com água (das poucas coisas que resta), uma ou duas latas de salsichas e de grão e uma lata de leite condensado para as minhas quebras de tensão.
Abro a porta do bunker e ouço muma voz que chama por mim, uma voz à qual não ligo, mas a qual tenho a certeza ser do meu pai. Prefiro não dizer-lhe nada. Vou apenas esperar que leia a carta que deixei. Não consigo ficar nem mais um minuto à espera que tudo me caia em cima, que continuem as explosões e as sirenes a sobreporem-se ao meu espaço. Não consigo!
Aguardo que todos fiquem bem, mesmo sem saber qual será o culminar da história, mas eles vão ficar bem. Eu sinto-o!...

22 julho 2005

sexta-feira!!!


O dia de hoje foi estranho!
Nada do que acontece é por acaso, mas a realidade é que é tudo muito estranho.
O dia de hoje foi deveras estranho!
O céu esvaiu-se em sombras e pouco mais.
E eu, pensei numa série de coisas que me vão atormentando o espírito. Tu por exemplo! E... porquê?!
Queria encontrar respostas para tudo, especialmente para a minha falta de significado e de confiança, de certezas e de conhecimentos.
Lembrei-me da história da caverna que alguém um dia me contou. Da história daqueles que buscam a realidade, a vida, a justificativa da existência.
Contava a história que um dia, alguém se lembrou de descer para uma gruta funda e escura, na qual mal era possível respirar, na qual era impossível ver conclusões. Não existia praticamente ninguém à superfície. No entanto, depois de mirar à sua volta, esse alguém deu conta de estar a ser observado. Foi então que um indivíduo se aproximou e perguntou ao alguém se queria um guia para a descida da gruta. A resposta que o indivíduo obteve foi negativa, pelo que o alguém resolveu descer sozinho. E assim foi. Levava apenas uma tocha que iluminava o que podia. Ao descer, o alguém deparou-se com uma série de caminhos, caminhos esses que não evidenciavam rigorosamente nada, porque a escuridão e o silêncio era o que imperava. Então, depois de muito pensar, alguém optou por um dos caminhos.
O objectivo era alcançar a superfície depois de entrar em contacto consigo mesmo. E será que conseguiu?!
Esta é a minha questão. Terá alguém sido capaz de sair de forma simples e sã?!
Também eu caminho por essa gruta. Ainda não encontrei o meu caminho e, na maioria das vezes, só vejo sombras e barulhos que vão permitindo o desconforto.
Quero respostas! Mas elas não aparecem.
Quero calma! Mas ela está adormecida.
Quero encontros! Mas a agenda continua vazia.
Que se passa afinal?!? O mesmo de sempre. Aliás, não é o mesmo de sempre. É bem diferente desta vez. E eu?! Continuo sem saber o que fazer...

17 julho 2005

Um dia de praia

O mar pouco se agita e o vento corre mansinho.
Raras são as nuvens que se vêem e o sol lança os seus raios saborosamente.
Tudo está em perfeita harmonia e nada se desliga da realidade que me vai concentrando este dia fora.
Existe alguma preocupação dentro daquilo que sou, mas não me consome. Apenas me deixa inquieta!
Hoje não é dia para voar, apenas para mirar os pequenos aviões que passam pelos meus olhos.
Ainda não consigo definir o que se vai passando dentro do meu ser, mas sinto que existe muito em mudança, muito que precisa efectivamente dessa mudança.
Queria ser capaz de definir-me e de definir as minhas prioridades, os meus verdadeiros sentimentos em relação aos outros, àqueles que entram e saem da minha vida, àqueles que nela se mantêm e que vão tornando possível a minha existência. Talvez viva como Christine, agarrada ao fantasma da ópera, àquele que a fazia sonhar mas a elevava a um estado completamentedeplorável de fantasia e de idealismos. Nada do que se passa hoje transforma a minha existência, apenas permite alguns pensamentos acerca da realidade que é a minha e que eu insisto em viver.
É apenas mais um dia. Um dia feliz.

12 julho 2005

...

Hoje transformei-me num pinheiro.
Perfumado.
Nórdico.
A crescer.
Em direcção ao céu!
Tenho raízes firmes
E danço ao sabor do vento...

10 julho 2005

A solidão é um ponto de partida!

Ouvindo esta frase e recordando as muitas linhas que li do meu livro, apercebo-me que esta é uma verdade absoluta!
Após uma prosa telefónica acabo por me aperceber também que essa mesma solidão depende sempre de cada um de nós. Sobretudo daquilo que pensamos e sentimos.
Vive-se num mundo em que não nos damos oportunidade de nos sentirmos, de entrarmos em contacto connosco, de nos sentirmos vazios, de não nos reconhecermos.
Racionalmente apercebo-me que todos vivemos assim e é tão difícil perceber isso; respirar fundo e sentir o ar percorrer-nos as entranhas e misturar-se com o sangue que nos corre nas veias.
Todos temos vontade de o fazer, mas emocional e praticamente não o fazemos.
Aperceber-me disso é difícil, estranho, doloroso. Mas é óptimo concluir que esta realidade é bem mais complexa que aquilo que imaginava. Aos poucos vou-me apercebendo disso mesmo. E ainda bem.
Reconheço que dei mais um passo para a minha felicidade, para a minha descoberta!

06 julho 2005

Um diálogo!

Pink: ois
Blue: tudo bom?
Pink: não, nem por isso
Blue: não respondi à mensagem há pouco porque estava em casa dos meus avós
Pink: não faz mal, eu também tava no sofá
Blue: então, mas que se passa com a senhora?
Pink: a senhora ta no céu… eu estou mesmo sem chão; o que é que se faz quando se sente a perder o chão?
Blue: não sei.. normalmente sento-me
Pink: e fazes o quê? eu hoje não sei o que fazer, sinto-me completamente desesperada, como se o mundo acabasse amanhã e não fossem existir mais dias de sol
Blue: então? se tivesse aí íamos ver o Madagáscar
Pink: quem me dera!
Blue: não digas isso
Pink: ao invés disso só me apetece chorar
Blue: tás quase a fazer anos ;) e a receber prendinhas
Pink: yah, como se isso me alegrasse. Tou a ficar mais velha, cada vez menos lúcida, cada vez mais louca, cada vez com menos paciência, e hoje sem dúvida a desesperar e não percebo porquê. Teoricamente eu estou bem, e n tenho problemas nenhuns, a não ser ter de esperar 30 minutos pelo autocarro; que puta de vida a minha!
Blue: isso acontece-me muitas vezes
Pink: o quê? esperar pelo bus? ou ficares deprimido?
Blue: não os 30 minutos... mas pensar que se tá a perder o chão, que tá tudo contra nós.
Pink: é tão fodido, como se o mundo todo conspirasse, mesmo que sem motivo. Hoje só me apetece desaparecer, gritar durante horas e só acordar quando estivesse noutro planeta. Que é que faço? será que corto os pulsos?
Blue: achas?
Pink: ou tomo uma caixa inteira de comprimidos?
Blue: e depois quem ia comigo ver o Madagáscar?
Pink: e deixo-me ficar na cama até não ter pinga de água no organismo, a morrer à fome... Quem ia contigo ver o filme? a Maria, o Armando, sei lá. Eu não sou boa companhia.
Blue: não gosto do Armando... esse já chega ter de partilhar quarto, a Maria.. é fixe em tondela (tem piscina)
Pink: cheguei à conclusão que não presto, que não valho nada
Blue: eheeh
Pink: que nem conversar sei
Blue: não digas isso pah
Pink: que só digo e faço disparates, e pronto. Pah.. Desculpa a parvoeira, mas eu não tou nada bem. Não sei se foi de não ter dormido um cu, se é de me sentir completa e totalmente vazia
Blue: tás na boa, não dizes disparates nenhuns
Pink: que ideia, se o meu psicoterapeuta me ouvisse acho q me batia!! ...queres um alperce?
Blue: também comi, adoro alperces
Pink: também eu, mas raramente como - tenho perguicite aguda
Blue: como te compreendo
Pink: ai sim? então?
Blue: sou muito preguiçoso
Pink: junta-te a mim... tava aqui a falar de ti!!! com a Tita
Blue: a falar d mim??
Pink: sim
Blue: mal?
Pink: porquê? Não, não era mal!
Blue: ahh. Ela tá aí?
Pink: Foi agora dormir. A Maria e a mana chegaram agora, a ver se isto anima
Blue: outra coisa..
Pink: o quê?
Blue: tou sozinho em casa.. tou no pc, e tenho a televisão ligada, tá na sportv (conheces esse canal?)
Pink: duh, sim... e?
Blue: tá a repetir um jogo de futebol desta época, benfica - porto
Pink: o quê?
Blue: fui ver este jogo... a neura com que eu fiquei
Pink: e tu tás a trocar-me pelo futebol
Blue: tchiii
Pink: bridaginha
Blue: não, não. Queria umas palavrinhas amigas.. para ver se me esqueço daquela noite negra em que decorreu este jogo.
Pink: mas acho que eu não sou a pessoa indicada para isso. a única coisa que posso fazer é dar-te um conselho, vais ao carro, abres a porta, entras, metes o dedo no botão e tiras o cd do Rodrigo Leão. A seguir, vais para casa, metes o cd no pc, pões play e ouves. Vais ver que ficas melhor. Era o que me apetecia. Era isso e ir até à praia, ouvir o mar, cheirar a maresia e olhar para a lua, estendida na areia!
Blue: que programa. Topo! Preferia esse último programa!
Pink: poix, mas n te esqueças que tás a 300km de distância. Não dá. À falta de melhor, aconselho-te a optares pelo cd e... faz um favor a ti próprio, desliga a televisão!
Blue: pois talvez seja melhor. olha... vou ter de sair
Pink: okis. Beijinhx então
Blue: vou ouvir o cd, a praia e a lua.. ficam para outro dia.
Pink: ai ficam? Para quando?
Blue: quando quiseres
Pink: ok, vou pensar nisso... jinhos
Blue: "pensa então" xau

05 julho 2005

Frase da semana

... Não estendas a mão
Foge do passado!...

04 julho 2005

O piano toca... o pôr-do-sol evidencia-se!

As teclas do piano vão sendo calcadas coma intensidade que a personagem julga ser a necessária. E eu vou ficando sentada numa mesa à espera que a velocidade que me percorre as entranhas diminua e se faça pacata.
Estou com uma sensação que não consigo definir, mas que de certa forma evidencia mais um peculiar pôr-do-sol, o qual fui capaz não só de ver, como de sentir, como de pôr em prática.
Por vezes, tenho medo de mim mesma, das minhas atitudes, mas tenho plena noção que hoje fui capaz de ser aquilo que sou; uma pessoa com vontades e com capacidade de decisão, uma pessoa que, tendo objectivos, luta por eles e os coloca em prática.
O maior desejo é o de continuar a ser assim, a ser capaz de ser eu própria, mesmo que, veladamente, isso possa custar horrores.
Não conheço o futuro. Não o quero conhecer. Quero apenas ser capaz de levar por diante a minha máxima de ser cor-de-rosa todos os dias, um dia de cada vez. Porque só assim serei feliz.
Neste momento, a ambiguidade de sensações que se manifestam em mim não definem ainda o real estado das coisas, mas essa mesma ambiguidade esfumar-se-áe dará espaço ao meu ser para se evidenciar como tal. Porque eu quero sempre mais!
Falar de núcleos abandónicos ou de rejeição não é para mim novidade. Terei tempo para os descobrir e os levar a bom porto, a boa solução e compreensão.
Dizia o poeta que o caminho só se faz andando, e eu estou nitidamente a percorrer o meu! Sem sombra de dúvidas. Qualquer que seja o tempo que isso leve, eu chego lá! Tenho a certeza. Só não sei onde! Mas chego.
Apetecia-me gritar, mas limito-me a conseguir respirar fundo. E isso já não dói! É bom! Faz sorrir! Faz-me sentir aliviada. Faz-me sentir sem nuvens tempestuosas a pairar o cérebro.
E hoje, não me fez confusão olhar para ele. Não tive a mínima vontade de lhe tocar, nem de o fazer sorrir. Mesmo depois de ler o que li! Foi o que foi. Não podia ser de outra maneira. E ainda bem.
Talvez o amanhã seja diferente. Aliás, será com certeza. Embora não saiba como, não me faz confusão. Nenhuma. Não me sinto minimamente obsecada com o que pode surgir, muito menos ansiosa. Apenas estou. E sou! Sou eu, mais um ser plantado num mundo hipócrita, onde sou apenas mais uma alma à procura do encontro.

02 julho 2005

Cântico negro

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com olhos doces,

Estendendo-me os braços, e seguros

De que seria bom que eu os ouvisse

Quando me dizem: “vem por aqui”!

Eu olho-os com olhos lassos,

(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)

E cruzo os braços,

E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:

Criar desumanidade!

Não acompanhar ninguém.

- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade

Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde

Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,

Por que me repetis: “vem por aqui”?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,

Redemoinhar aos ventos,

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,

A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi

Só para desflorar virgens,

E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!

O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós

Que me dareis machados, ferramentas, e coragem

Para eu derrubar os meus obstáculos?...

Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,

E vós amais o que é fácil!

Eu amo o Longe, e a Miragem,

Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,

Tendes jardins, tendes canteiros,

Tendes pátrias, tendes tectos,

E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.

Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,

E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.

Todos tiveram pai, todos tiveram mãe.

Mas eu, que nunca principio nem acabo,

Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah! que ninguém me dê piedosas intenções!

Ninguém me peça definições!

Ninguém me diga: “vem por aqui”!

A minha vida é um vendaval que se soltou

É uma onda que se alevantou.

É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,

Não sei para onde vou,

- Sei que não vou por aí!