Azul

o reencontro com uma alma que existe dentro de um corpo etéro desprovido de lógica

31 março 2003

Que se passa hoje? Que a dor de cabeça não passa? Tudo me parece irreal, até a vida que considero a minha realidade! O vazio predomina no meu pensamento. O vazio é o nada em que penso. A ideia é sempre a mesma; o vazio e mais nada. Parece que mais nada existe para além de mim e do próprio vazio em que eu própria me encarcero.

Sou prisioneira de mim mesma, daquilo em que me tornei, daquilo em que teimo em manter, daquilo que nem eu própria sei o que é!

Não odeio a vida, odeio aquilo em que ela se tornou, aquilo que eu mudei e aquilo que teimo em manter, não digo numa vida, mas numa estupidez que não entendo. Disse que o céu era o limite e que a morte, talvez, o meu fim.

Não acredito em nada. Nem em mim, nem naquilo que faço. Nem naquilo que vivo ou teimo em viver.

Os outros são meras personagens de teatros marionetas que eu não comando, mas que compõem e adornam o meu mundo. São tudo peças que eu não compreendo, porque não são estáticas, mas teimam em viver no meu mundo estático.

O inatismo prevalece sobre a matemática que outrora me compôs.

O racionalismo foi, em tempos, a dor do meu ser, por se ver sobreposto à emoção em que sempre insisti viver e alimentar-me.

Agora?! Agora não existe nada e o vazio é a mera contemplação da irrealidade fugaz e perpétua.

Paradoxalmente, tudo se resume a mim...

29 março 2003



É sempre tão bom falar contigo! As palavras expressas...

O silêncio saboroso, o café pouco quente! Tudo sabe a nostálgico, tudo sabe a poético, num culminar de sorrisos e olhares que transcendem a simplicidade, mas não tornam complexa a nossa existência!

O dia permaneceu escuro, tal como o conteúdo deprimente dos nossos diálogos, dos nossos medos, muitas vezes, reduzidos a cinzas e a pó.

A tinta desliza ao sabor dos ponteiros do relógio e do movimento do planeta azul, onde vagueiam nuvens e sopros de ar!

A lua está longe e escondida. O silêncio das horas manifesta-se estranhamente atento e a delícia das gotas de água que chovem enchem a maresia de alívio, numa calma quase matinal.

Nada soa a desespero! Nada soa a tristeza, mas as melodias que se ouvem soam a "momentos", a cartas rasgadas lançadas ao vento e à libertação da alma! Num silêncio aflito, todos os olhares matam, todos os gestos destroem... mas é com tudo isso que a montanha se ergue, o mar agita e a vida renasce, num fogo superior ao entendimento!