Hoje pensei em escrever! Não sei o quê, nem de quem, nem para quem, nem rigorosamente nada.
Talvez pense que o dia tenha sido inútil, mas ao mesmo tempo acredito que não! Depois de mais de 12horas passadas entre o colchão e o edredon, resolvi que tinha de sair de casa, independentemente do calor que se fizesse sentir.
Tem estado um dia abrasador, daqueles em que mal se consegue respirar, mas mesmo assim as 5 horas da tarde é sempre uma boa hora para sair.
Aqui, neste lugar onde me sento e calmamente aprecio o meu café, está um ambiente calmo e sereno. A brisa faz-se sentir e a paz com que se está intensifica-se a cada momento.
Ontem li qualquer coisa de fantástico que alguém especial me enviou! Fiquei deveras contente pela mensagem que me transmitia, aliás como sempre.
Só vou ter dificuldade em fazer uma das coisas que me é dita! Agradecer-me! Mas como? Já pensei nisso (apenas depois de ter lido o que li), mas continuo na dúvida.
Eu sou capaz de entender que há muitas coisas que faço que valem a pena para mim, não para os outros, mas agradecer-me? Parece demasiado óbvio, mas porque não? Porque não pensar nisso como na velha história do se eu não gostar de mim, quem gostará?
Há pessoas que já jantam
Eu porem saboreio a brisa
Recordo as tardes de verão
Em plena costa alentejana
E regresso à realidade
Depois de mais um momento de reflexão seguido de outro de distracção vêm-me à memória situações vivenciadas num espaço que não é, nunca foi e nunca será o meu. É tudo frio, fugaz, indiferente e desprovido de sentido.
Vivo cercada de mim mesma, numa solidão desmedida. Uma solidão que finalmente aprecio.
Talvez tivesse mesmo que passar 6 meses noutro país, com outras pessoas para a entender, para a saborear, para a saber viver. Mas dói tanto! Dói tanto como levar uma sova! E eu nunca levei nenhuma
(levei um estalo
e bem o merecia
... o desrespeito tem destas coisas)
Mas é um facto que por muito saborosa que seja esta solidão, ela acaba por ser muito sofrida. O eterno paradoxo do ser pensante. Mau para ser bom, duro para ser entendido, sofrido para ser apreciado! E que paradoxo!
Continuo à espera de saber dar resposta àquilo que nem eu própria sei que pergunto. Porque afinal de contas, que raio de pergunta é a minha que me direcciona para uma qualquer resposta, que nem eu sei qual é!
Pareço um explorador em busca do tesouro escondido, um tesouro que não sei qual é, um tesouro sem mapa, um tesouro sem rosto.
Pelo caminho encontrei um papiro há muito encarcerado numa caixa. Um papiro que me fez reapreciar uma espiritualidade que eu pensava perdida, mas que apenas andava velada por um sentimento de raiva associado àquilo que não tem associação. Esse papiro, recuperei-o e recuperei-me a mim também nalguns aspectos.
Lá em cima no campanário
Há um sino adormecido
Numa torre que se esconde por detrás das heras.
(aqui ninguém nos olha como se fossemos uns estranhos transeuntes, loucos por deixarmos as canetas correrem ao sabor do pensamento que vagueia num cérebro com sinapses tão desprovidas de nexo como de conteúdo)
Hoje ainda é cedo para saber o que foi, o que é, o que será aquilo que vivi ou aquilo que vivo.
Há momentos em que sei que isto é uma mais-valia, mesmo que com dor, mas voltaríamos ao eterno paradoxo do ser, outros em que me parece apenas uma tempestade em alto mar, da qual espero sair ilesa.
Já falta pouco para o final da viagem por alto mar.
(várias vezes me questiono sobre a necessidade de ser, de estar, de viver, mas pouco ou nada concluo!)