Azul

o reencontro com uma alma que existe dentro de um corpo etéro desprovido de lógica

20 março 2005

A palavra amor

"Estou apaixonado pelo amor, mas não tão terrivelmente apaixonado que ponho a palavra em todo o lado, decompondo-a repetidamente em todas as letras com que e escrita, e vejo-a em tudo para onde olho, e noto-a em tudo o que noto, e sinto-a em tudo o que sinto, e deixo-a onde sempre quero, que e invariavelmente naquilo em que preciso para ser feliz, e chamo-lhe nomes baixinho, segredo-lhe suspiros ao ouvido, toco-a enquanto a escrevo nas linhas da mão. E eu, que não sei bem se acredito ou não em Deus, acredito tanto nela que mesmo se Deus viesse para por ali o seu dedo, julgo que ficaria como eu, parado deslumbrado, tão petrificadamente emocionado que acabaria por perceber que mais nada valeria a pena fazer, pois que assim já estava perfeito. Até que, como um menino (em Deus-menino acredito muito facilmente), rebolaria na areia até ficar croquete, esperaria na praia pela sétima onda para, corado, salgado, lançar ao mar uma garrafa, vidro verde meio baço, tampa cuidadosamente calafetada, uma mensagem em letra mal escrita, de espuma, de apenas uma palavra: amo tracinho te."