Azul

o reencontro com uma alma que existe dentro de um corpo etéro desprovido de lógica

27 maio 2005

A Mulher de Preto

Mirei pela janela a folhagem verde das árvores que crescem lá fora e que reflectem a luz do sol. Descobri, no meio dos milhares de folhas entrelaçadas um pássaro negro e luzidio de bico amarelo torrado a bicar os ramos da árvore que insiste em crescer.
Ouço a música que ecoa nos meus ouvidos e relembro toda a prosa e todo o exercício de introspecção e de reconhecimento de espaços, de pessoas e de situações vividas, de flores e de objectos com significado especial.
Surge no meio do nada uma mulher. Com traços característicos, veste-se de preto e encerra em si uma história triste e de muitos obstáculos, uma história amarga e vivida com muito sofrimento. É uma mulher de parcas palavras e de raros sorrisos. Sobreviveu a um infindável número de dores e ultrapassou-se a si mesma quando percebeu que a vida não iria ser aquilo que havia idealizado.
Estranhamente, aquele ser paradoxalmente de semblante escuro e luminoso, revelou-me um segredo e mostrou-me que existia qualquer coisa de comum entre nós.
Ainda que hajam poucas memórias, recordo-a com saudade. É uma saudade velada, protegida por uma série de lençóis.
Julgava eu que estes lençóis estavam bem limpos, perfumados e arrumados numa cómoda antiga, de madeira resistente às intempéries, encerada por fadas minúsculas e bonitas que, por onde passam, deixam um rasto de estrelas luminosas e douradas.