Azul

o reencontro com uma alma que existe dentro de um corpo etéro desprovido de lógica

01 dezembro 2002


Mais uma qualquer coisa que me leva a escrever e a pensar palavras, vindas de um nada nem sei se despropositado, se provido de um qualquer sentido!...

Tudo isto me parece efémero. Os meus sentidos estão alerta, mas eu ainda não consigo perceber o porquê desta espera. Sim, é apenas uma espera por alguém ou por algo que penso preencher-me em tudo o que sou, em tudo o que desejo ser, em tudo que sonho e não concretizo.

Toda a minha fugaz alegria vai desvanecendo à mínima contrariedade, ao mínimo silêncio e tudo isto porquê? Não me entendo, não me encontro em mim. As minhas gavetas, todas desarrumadas, não me deixam respirar, não me deixam viver livre. Há um ser encarcerado no mais ínfimo da minha existência que não me eleva à plenitude, não me permite ser quem na realidade sou.

As minhas duas personalidades não fazem mais nada que não discutir e servir-se do meu estado de fraqueza e desilusão para tentarem sobrepor-se uma à outra.

Eu gostava de olhar para ti

E dizer-te que és uma luz

Que me acende a noite

Me guia de dia e seduz

Eu gostava de ser como tu

Não ter asas e poder voar

Ter o céu como fundo

Ir ao fim do mundo e voltar

Eu não sei o que me aconteceu

Foi feitiço!

O que é que me deu?

Para gostar tanto assim

De alguém como tu

Eu gostava que olhasses

Para mim

E sentisses que sou o teu mar

Mergulhasses sem medo

Um olhar, um segredo

Só para eu te abraçar

O primeiro impulso é sempre + justo

É + verdadeiro

E o primeiro susto

Dá voltas e voltas

Na volta redonda de um beijo profundo

Tudo isto me parece tão estranho, tão repentino e... a fugir aos poucos e poucos, a esfumaçar, a perder-se no meio do nada e, simultaneamente, no meio de uma confusão que eu própria gerei. Será assim tão difícil aceitar a realidade que, apesar de me consumir aos poucos, de me corroer por dentro, foi provocada por mim?!

Nesta altura, nada parece fazer sentido... estou completamente perdida, completamente desamparada e descontente com uma série de circunstâncias, de qualquer coisa que me massacra e me leva a um infinito repleto de amargura e lágrimas, que teimam em não correr, que teimam em prender-me à crueza daquilo que é o mundo em que vivo, em que renasço de cada vez que o sol se lembra de brilhar e manifestar, ainda que por detrás das nuvens negras e pesadas.

A estrela-do-mar apareceu hoje na minha vida, misturada com um número estranho de fotografias e de sorrisos caricatos, de olhos brilhantes e de maresias fantasiadas, projectadas num futuro completamente incerto e efémero de felicidades... muito embora eu acredite na felicidade plena, não me parece fazer parte do grupo que constitui aquele que a encontra e a preserva!

Talvez esteja a ser demasiado dramática com todas estas vivências, com aquilo que idealizo, com aquilo que ambiciono, com aquilo que, sonhando, não deixo morrer.

Uma gota de água, num repleto oceano de mal-entendidos é aquilo que eu experimento nos dias que têm corrido e me trazem à memória aquilo que nem eu consigo descurar por mim só.

Os desenhos animados, as brincadeiras com bonecas e as séries inesquecíveis são apenas uma parte bonita de um passado infantil e completamente apagado das vivências do dia-a-dia, de um quotidiano, que, ainda assim, continua a ser o meu...

A vontade de cantar surge, mesmo que devagarinho, ao lado do coração... porque as coisas que valem mesmo a pena, surgem assim, mesmo que com dor ou com raiva, como tem vindo a acontecer, em paralelo, nestes últimos tempos – são somente as minhas duas personalidades em conflito, em constante e permanente guerrilha.

Talvez a partir de hoje as coisas possam ser diferentes, contudo isso não depende exclusivamente de mim, nem do mundo que gira à minha volta, nem de nada em concreto...

Sou eu quem tem de mudar,

sou eu quem tem de pensar mais positivo

e viver, viver, viver...