Azul

o reencontro com uma alma que existe dentro de um corpo etéro desprovido de lógica

19 agosto 2002

Uma pequena história!

A Maria resolveu, num sábado de tarde, sair de casa e procurar um porto de abrigo, nem sabia ela a que propósito. Mesmo assim, resolveu sair e correr atrás de uma ideia. Guiou-se para casa da avó, que já lá não vive. Optou por não ir sozinha e conseguiu convencer o irmão Miguel a acompanhá-la.
Assim que lá chegou encontrou um velho amigo de infância – o Jorge –, com o qual trocou algumas impressões e com o qual combinou sair depois de jantar, já que iriam para uma festarola numa aldeia de província.
Reencontrou ainda, uma amiga também de infância, a Aninhas. As saudades eram tantas que em pouco tempo conseguiram contar uma à outra tudo aquilo que as fazia feliz. E talvez aquilo que as fez infeliz!!!
No fim de ter estado em perfeita sintonia com um mundo do passado saiu. Resolveu encontrar um café para saborear um dos seus poucos amantes. Aproveitou para fumar um cigarro e contemplar um céu escuro, repleto de chamas intensas, que não esperava ela, a invadiriam.
Depois de um tempo de diversão e de amena “cavaqueira”, com a Aninhas, o Miguel, o Jorge, a Soraia (namorada do Jorge), o Pedro e o António (dois amigos do Jorge, que o tinham ido visitar), chegou a altura de regressar a casa, mas não sem antes deixar o seu quê de sedução ao António.
O António era um rapaz calado, pacato e com um olhar penetrante... A Maria acabou por revelar um pouco da sua curiosidade nele, quando se lembrou de ir embora. Queria despedir-se e o António recusava-se de todo a despedir-se, porque queria um pouco mais de companhia! Maria não o achou suficientemente convincente e optou por sair mesmo assim.
Contudo, não se manteve quieta e agarrou no telemóvel para mandar mensagem ao Jorge, que não lhe respondeu mas transmitiu bem o recado. Maria havia dito: Diz ao teu amigo António que ele tem que ser mais convincente nos pedidos que faz!!! Nunca pensou obter resposta, mas o que é facto é que isso veio a verificar-se e da troca de mensagens veio a resultar uma noite de conversa e de partilha de desejos e, talvez de sentimentos. Tudo soou a misterioso! Depois das trocas de desejos, o dia raiou deveras, numa cama perdida algures numa aldeia também perdida, onde o sol invadia os espaços verdes da serra – pano de fundo do sossego matinal e quase intemporal.
Nada do que acontecera fora explicado e tudo isso mexeu com Maria, que não concebia respostas incógnitas, muito menos de incompreensão. Foi então que caiu numa depressão apaixonada por um desconhecido.
Maria tentava entender os motivos de uma estranheza peculiar não só nos gestos, como nos olhares de António. Mas não conseguia e tudo se desmoronou à sua volta, como que numa explosão vulcânica no meio de uma ilha deserta. O seu sentimento era o de raiva, por parecer que tudo tinha sido em vão e tinha obtido um significado nulo.
Facto é, que na semana seguinte continuaram numa troca incessante de mensagens e tudo isso deixava Maria feliz da vida. Voltou às questões dos idealismos, voltou a ser mais emocional que o habitual e também isso a fez pensar e repensar a sua vida e a sua forma de encarar as suas vivências enquanto pessoa e enquanto mulher. Mais uma vez isso fê-la desesperar, por se ter apercebido que não era coerente com as suas escolhas e com as suas decisões. Sentiu-se perdida!
Ainda assim, decidiu continuar com uma busca incessante de uma resposta que ainda não tinha alcançado.
Foram continuando as trocas incessantes de mensagens e de e-mails sem um qualquer fundamento lógico. Maria percebeu que aquela realidade era apenas um motivo para uma preocupação, um motivo para ocupar os seu pensamentos em época de férias, em época de devaneios.
Depois de uma longa espera António resolveu responder ao e-mail de Maria e apenas lhe dizia que tinham, de facto, que ter uma conversa, mas com certeza não iria ser por mail, já que essa situação não os levaria a porto seguro. Conversariam sim em Setembro, quando as férias tivessem terminado e tudo estivesse mais calmo.
Maria aceitou essa proposta e resolveu deitar por terra toda essa situação. E ainda bem que o fez, porque se permitiu libertar de um desejo estúpido.
Continua com a certeza de que existe um assunto inacabado na sua vida, contudo tem esperança de que tudo se venha a resolver e a dar a um velho lençol alguma capacidade de readaptação à vida com que ela sonha!...